quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A PROCURA POR DEUS

O Departamento de Religião me convidou para, na série “A PROCURA POR DEUS”, falar para vocês sobre o Zen Budismo. Eu aceitei porque acredito que o Darma de Buda, assim os budistas chamam seu ensinamento, tem relevância terapêutica para a guerra do Vietnã, a luta pelos direitos civis, a ingestão de ácidos lisérgicos, pílulas, bebidas alcoólicas e muitas outras doenças da nossa sociedade contemporânea.
Recentemente, a nação ficou chocada pelos assassinatos brutais de Linda e Groovy, dois assim chamados hippies que viviam no East Village, em Nova York. As violentas mortes desses dois jovens criou uma imediata onda de ultraje e indignação por parte de jornais e revistas, os quais usaram seus assassinatos como um pretexto para censurar todo o fenômeno hippie. Muitas revistas e jornais são leais defensores da guerra que a América do Norte está promovendo no Vietnã, e parecem sentir que há uma inerente diferença entre matança em larga escala e assassinatos individuais. O ponto olhado com vista grossa é que embora a violência possa manifestar-se numa variedade de formas, sua causa-raiz é sempre a mesma em todos casos: um grande senso de “eu” e “meu”, o desejo por poder e dominação, o que, por seu turno, dá origem a sentimentos de medo e alienação tão poderosos a fazer homens viciosamente destruir outras criaturas e mesmo até si próprias.
Mais tarde eu terei algo mais a dizer sobre ego. Para o momento, deixe-me observar que a despeito da nossa violência doméstica e externa, nós Americanos somos ainda a esperança da Humanidade. Em meus treze anos de residência no Japão e extensas viagens na India, Burma, Ceilão e Tailândia, eu ouvi numerosos comentários de asiáticos familiarizados com a cena na América e na Europa, que a onda do futuro está, não na Ásia ou na Europa mas na América. Se eu não acreditasse nisso eu estaria ainda no Japão e não de volta ao meu país. Nós estamos sem dúvida lentamente começando a virar nossas energias criativas para dentro, e se nós podemos viver através do presente inferno, poderemos ainda transformar a América na terra bíblica de leite e mel. Há esperança para nós no ditado de Lutero: “Aquele que é mau o bastante para viver no inferno, é bom o bastante para ir para o céu.”
Evidência para apoiar esta visão otimista do potencial espiritual da América não está faltando. Ela pode ser encontrada numa série de conferências como esta, na qual os promotores devem ser congratulados por sua iniciativa e visão em trazer ante vocês representantes de quatro grandes religiões do mundo. Eu estou honrado de ser um dos conferencistas e espero possa apresentar para vocês uma clara pintura da grande estrutura de pensamento, sentimento e sabedoria conhecida como Budismo. Esta religião abrange um terço da raça humana, incluindo a grande maioria dos asiáticos, e atualmente está se projetando nos corações e mentes de numerosos homens e mulheres no Ocidente.
O tópico assinalado para esta série de conferências é “A PROCURA POR DEUS” e eu me encontro já num dilema, pois no Budismo, especialmente no Zen, não há nada a procurar, muito menos um Deus. O problema fundamental no Zen não é Deus mas sim o homem. Não o que é Deus, mas o que sou Eu? Por quê eu nasci, por quê devo morrer? Não encontrar Deus mas realizar a minha natureza original, este é o principal interesse do Zen. O seguinte diálogo Zen ilustra o problema:
Um monge chamado Etcho perguntou a um Mestre Zen, “Qual é o significado de Buda?” “Você é Etcho!” retrucou o Mestre.

Dostoievsky numa carta para seu irmão escreveu: “É terrível olhar um homem que tem o Incompreensível dentro de si, não sabe o que fazer com ele, e se senta brincando com um brinquedo chamado Deus.”
Brinquedos são para divertimento de crianças, não de adultos. Zen demanda maturidade e responsabilidade de seus adeptos. Ele nos adverte a sermos adultos, a ficarmos apoiados sobre nossos próprios pés, não nos de Deus ou nos de alguém além e a responder completamente ao que é mais verdadeiro em nós mesmos. Nossa liberdade e espontaneidade inatas não podem ser acorrentadas a um Deus ou a Buda. Os Mestres Zen são conhecidos por gritar, “Você deve matar o Buda!”, não como um gesto dramático de desafio, mas como uma inescapável consequência de seu amor de liberdade. Contudo, uma palavra de advertência: Somente aquele que tem a reverência e humildade de prostrar-se perante o Buda pode destruí-lo quando ele se torna uma ameaça para a completa liberdade interior. Verdadeiramente, “Zen é uma religião de respeitoso desrespeito e desrespeitoso respeito.”
No Zen , nós dizemos, não há a nada a procurar . Procura implica algum objetivo ou objeto fora de nós mesmos e um sujeito-Eu que faz a procura--uma noção dualista que fratura nosso Todo inerente. Desde que nossa verdadeira- natureza não tem insuficiência, como um círculo ao qual nada pode ser acrescido e do qual nada pode ser subtraído, o que então há a procurar? Muitas pessoas, que orgulhosamente se chamam ‘buscadores’, tornam-se apegados a uma idéia de busca, com o resultado que elas nunca encontram. Em um diferente contexto, Picasso uma vez afirmou, “Outros pintores procuram; Eu encontro.”
O que no Ocidente chamamos Budismo tem sua origem, historicamente falando, na pessoa e vida de Sidarta Gautama, mais tarde conhecido como Buda Shakyamuni, isto é, o sábio do clã dos Shakya. Entre os budistas ele é reverenciado não como uma divindade ou um salvador que toma sobre si os pecados dos outros, mas como alguém completamente desperto, um ser humano completamente perfeito que atingiu liberação de corpo e mente através de seus próprios esforços e não pela graça de um ser sobrenatural. As pessoas frequentemente lhe perguntavam, “Você é um deus? “
“Não.”
“Um anjo?”
“Não.”
“Um santo?”
“Não.”
“Então, quem você é?”
“Eu sou desperto”, ele replicava, e isso é realmente o significado do termo ‘Buda’: alguém desperto ou iluminado para sua própria natureza e toda existência.
Se o Budismo começa com Buda Shakyamuni, no Zen o foco é no seu despertar, ou supremo iluminamento, um evento que une todas as seitas do Budismo, sejam elas da tradição Mahayana (‘Grande Veículo’), do qual o Zen é o coração, ou da tradição Hynaiana, algumas vezes conhecida como Teravada ou Budismo do Sul. Localizado na escala limitante do tempo, o iluminamento do Buda ocorreu em 08 de dezembro, no ano 528 AC. , quando ele tinha trinta e cinco anos. Especialmente entre os zen budistas esta memorável ocasião é observada não tanto como um tempo de júbilo mas como um tempo de renovado esforço para realizar nossa verdadeira natureza assim como o Buda realizou a sua.
Após seu grande despertar, o Buda é lembrado por exclamar, “Maravilha das maravilhas! Intrinsecamente todos seres vivos são completos , dotados com virtude e sabedoria, mas por por causa de seus pensamentos delusórios eles falham em perceber isto.” Eu devo retornar a este termo ‘delusório’, pois muito do ensinamento Zen revolve sobre ele. Aqui deixe-me apontar que no Zen Budismo alguém que tenha genuinamente realizado sua natureza-própria atingiu o primeiro estágio do estado de Buda, desde que em substância esta realização não é diferente da do Buda. É somente no Grau do iluminamento do Buda, tão bem como na perfeição de seu caracter e personalidade que é, em sua equanimidade, compaixão e sabedoria - que o Buda se eleva sobre os homens de iluminamento mediano. Talvez seja como comparar um pintor de domingo com Rembrandt. Ambos são artistas, mas quão diferentes suas conquistas.
A substância desta natureza-própria pode ser comparada à água. Uma das características salientes da água é sua conformabilidade: quando posta num vaso redondo ela se torna redonda, quando posta num vaso quadrado ela se torna quadrada. Nós temos também esta adaptabilidade, o Budismo nos ensina, mas porque estamos apegados, acorrentados, por causa da ignorância de nossa natureza-própria, nos foi confiscada esta liberdade. A mente de um Buda é como a água que é calma, profunda e cristalina, e sobre a qual a ‘lua da verdade’ reflete-se completa e perfeitamente. A mente de um homem comum, por outro lado, é como água escura, constantemente perturbada pelos ventos do pensamento delusório e não mais capaz de refletir a lua da verdade. A lua, não obstante, brilha firmemente sobre as ondas, mas como as águas estão turvas, nós somos impedidos de ver seus reflexos. Assim nós levamos uma vida frustrante e sem significado.
Como, então, poderemos trazer a lua da verdade para iluminar completamente nossa vida e personalidade? Nós precisamos inicialmente clarificar esta água, acalmar as ondas surgentes estancando os ventos do pensamento discursivo. Em outras palavras, nós carecemos libertar nossas mentes da escravidão do pensamento conceitual. A maioria das pessoas atribui um alto valor ao pensamento abstrato, mas o Budismo demonstra claramente que no pensamento discriminativo jaz a raiz da ilusão. Por esta razão ele tem sido chamado pelos Mestres Zen de doença da mente humana. Isto não obstante não quer dizer que o Zen condena o intelecto. Pensamento abstrato, para ser seguro, é enormemente útil quando sua natureza e limitações são propriamente compreendidas. Mas quando os homens permanecem escravos de seu intelecto, acorrentados e controlados por ele, eles podem então ser chamados doentes, de acordo com o Budismo.
Nos ensinamentos dos Mestres Zen, nós vemos o pensamento conceitual descrito como “curso da vida e da morte”. Idéias randômicas (aleatórias) são relativamente inócuas, mas crenças, opiniões, racionalizações, ideais, sonhos, esperanças- nas quais estamos presos como dentro de um casulo- são todas inibidoras , de acordo com o Zen. Voltaire estava na companhia dos Mestres Zen quando observou, “Opiniões causam mais problemas na terra que pragas ou tremores de terra.” Quanto aos ideais, Chesterton, um ensaista britânico, uma vez escreveu, “Não há outro problema com os americanos exceto seus ideais. Com o americano real, tudo bem. É com o americano Ideal que está o problema.”
Devemos condenar nossos sonhos e esperanças? Eles parecem ser a própria matéria de nossas vidas. Ainda que eles sejam não obstante ilusórios. A doutrina budista sustenta que o passado é irreal porque já passou; o futuro porque ainda não chegou; e o presente porque no momento em que pensamos nele, ele já desapareceu. Apegue-se ao passado e você sacrifica o presente. Espere o futuro e você nega o “aqui e agora”. Pense nem no passado nem no futuro nem no presente, seja apenas uno com cada momento, e você terá os três, não como uma trindade mas como uma unidade indivisível.
Pensamento delusório, então, é a estática mental que nos impede de estar sintonizados com nossa existência diária. Atos delusórios são um apego ignorante ao irreal e ao efêmero o qual nós por equivoco assumimos ser real e permanente. Agora, a mãe da ilusão, de acordo com o Zen Budismo, é a noção de um ego-Eu, a aceitação do si-mesmo como uma individualidade discreta e isolada. Como essa ilusão nasce? Enganado pelos nossos sentidos e nosso intelecto bifurcante em postular o dualismo do eu-e-o outro, nós somos levados a pensar e agir como se fôssemos confrontados por um mundo externo a nós. Assim, no inconsciente a idéia de “EU”, ou si-mesmo, torna-se fixa, e daí afloram tais padrões como Eu detesto isto, Eu amo aquilo; isto é meu, aquilo é seu.
Nutrido por esta forragem, o Ego-Eu imperioso começa a dominar a personalidade, atacando o que quer que ameace sua dominação e apegando-se a qualquer coisa que amplie seu poder. Antagonismo, cobiça e alienação, culminando em sofrimento, são as consequências inevitáveis de nossa falha em reconhecer a natureza e limitações de nosso intelecto e nossos sentidos.
A unidade e interdependência fundamental de toda existência torna-se clara quando nós somos não-iludidos. No Zen isto é expresso por tais afirmações como, “Quando batem em John, Jim chora; quando há nuvens sobre montanhas do sul, chove no norte; quando o sino toca em Rochester, uma aula começa em Tallahasee.” Analise e discrimine, todavia, e a Unidade será quebrada. Um verso de Stevenson, “O mundo é tão cheio de um sem-número de coisas que eu estou certo que nós deveríamos ser felizes como reis” soa como banal, ainda que tenha sua profundidade—se nós podemos assumir que os reis são felizes. Vocês lembram da charmosa lenda persa, citada nas estórias de Maeterlinck, do rei que era muito poderoso mas também muito infeliz. Ele consultou seus videntes para descobrir o que o faria feliz. Após diligente pesquisa eles encontraram a chave para seu dilema. “Sua Majestade”, eles disseram, “deve vestir a camisa de um homem feliz”. Então seguiu-se uma longa busca e finalmente foi encontrado um pobre camponês que era perfeitamente feliz. Só que ele não usava camisa. Hoje ele provavelmente fosse chamado um hippie.
O iluminamento do Buda, eu tenho dito, é suprema, desde que as doutrinas e princípios e filosofia todas emergem dele. Além da irrealidade de um Ego-Eu, o Buda em seu iluminamento percebeu que todos fenômenos condicionados são impermanentes, formas fugazes num fluxo de mudança incessante, que aflora quando certas causas e condições convergem no ser e que passam com o aparecimento de novos fatores causais. O Buda posteriormente percebeu que o substrato da existência é o Vazio, fora do qual todas as coisas nascem sem cessar e para o qual elas eternamente retornam. Esse vazio não pode ser descrito como uma cifra branca ou uma negatividade fria, mas como alguma coisa carregada de poder e criatividade.
A dor, o Buda proclamou, é uma condição inevitável da vida. Nossos sofrimentos, contudo—quer dizer, nossa avaliação da dor quando nos posicionamos à parte—são enraizados no nosso apego ao ego e nos medos e terrores que brotam de nossa ignorância da verdadeira natureza da vida e da morte. “Uma coisa eu ensino”, disse o Buda, “o sofrimento e o fim do sofrimento”. Assim ele foi considerado o Grande Médico. Desde que ele não se contentava meramente em diagnosticar as doenças do homem mas em prescrever remédios precisos, seu Darma pode ser descrito como otimista e prático.
É otimista e não fatalista, como às vezes é julgado, porque ele ensinou que o karma do homem, isto é, o somatório do efeito de seus pensamentos e atos, não é fixo mas variável. O karma pode ser também chamado como a lei da ação, reação e interação, ou simplesmente “lei da causa e efeito”—o que você semeia, você colhe. Exceto para certas circunstâncias como alguém ter nascido homem ou mulher ou preto ou branco, cada um tem o poder de mudar seu karma pelo caminho que ele escolhe de aceitar ou rejeitar a vida. Deixe-nos dizer, uma pessoa é mandada para a cadeia por um crime que ela cometeu. Aqui nós vemos a ação da causa e efeito. A pessoa pode então decidir a arrepender-se e tornar-se dentro da lei ou determinar-se a ser mais cuidadoso para não ser pego da próxima vez. Ou ela pode usar aquele confinamento como uma ocasião para uma disciplina espiritual como zazen, uma boa leitura, assim como fez Oscar Wilde quando foi para Reading Gaol. Similarmente, alguém nascido doente pode se tornar melhor com atenção a sua saúde, enquanto alguém pobre tem a possibilidade de se tornar rico. A doutrina do karma, uma das pedras fundamentais do Budismo, é matéria tão complexa que estas breves observações dificilmente lhe fazem justiça.
A prescrição do Buda para o fim do sofrimento consistia de muitos remédios, o principal deles sendo a meditação. No Zen, a meditação toma uma forma especial chamada zazen, uma palavra japonesa que significa “sentar com uma mente concentrada”. Zazen, o processo de concentração e absorção pelo qual a mente é acalmada e dirigida a um único ponto, é o coração da disciplina Zen. O Mestre Zen japonês, Mestre Dogen, chamava o zazen “o portão da liberação total”. Zazen, contudo, envolve muito mais que meditação quieta. É uma intensa luta interior para ganhar controle sobre a mente e então usá-la, como um míssil silente, para penetrar a barreira dos cinco sentidos e do intelecto discursivo. Este esvaziamento da mente de idéias randômicas estabelece aquele equilíbrio interior que os ventos do pensamento conceitual não podem mais abater.
O termo “lavagem cerebral” é uma palavra pesada, mas no sentido de purificar e libertar a mente da escravidão a idéias fugitivas, inúteis, nós podemos chamar zazen de “lavagem cerebral”. Talvez isto ficará mais claro se eu contar a vocês brevemente das experiências de dois americanos com o zazen. O primeiro, após praticar zazen num período curto, disse, “Eu sei que a disciplina Zen envolve libertar a mente de todas crenças e valores fortemente arraigados com o fim de torná-la como uma lousa limpa. Mas, olhe, eu passei quatro anos adquirindo educação em Harvard. Esse conhecimento custou-me um inferno de esforço, meu e de meus pais. Se você pensa que eu vou jogar tudo fora por uma porcaria chamada satori, você está enganado. Para falar a verdade, eu prefiro ler sobre Zen que praticá-lo; dessa forma eu não perco, eu ganho.”
O segundo disse, “Algumas pessoas me perguntam, “O que você ganhou com o Zen?” Eu respondo que na verdade eu perdi e o que quer que eu ganhe provém dessa perda. Eu perdi muito do que não era eu mesmo e como resultado o peso do falso ego que eu carregava se tornou mais leve. Infelizmente, eu ainda não sei o que eu realmente sou, mas sei mais o que não sou, e isso significa que eu posso fluir mais facilmente através da vida.”
Após ouvir isso alguém pode perguntar, “De que maneira alguém pode fluir mais facilmente?” Energias que eram dissipadas em esforços compulsivos e ações sem propósito são agora preservadas através do sentar correto Zen; e no ponto que a mente atinge concentração, ela não mais dispersa suas forças na proliferação incontrolada de pensamentos vãos. O sistema nervoso inteiro relaxa, tensões interiores são eliminadas e o tônus de todos os órgãos fortalece. Com corpo e mente consolidados, focados e energizados nossas emoções respondem com crescente sensibilidade e nossa vontade afirma-se com maior força de propósito. Nós não somos mais dominados pelo intelecto às expensas dos sentimentos, nem levados por emoções não checadas pela razão ou vontade.
Note a ênfase na vontade, pois sem força de vontade o progresso é impossível. Dostoievsky reconheceu isso quando escreveu a seu irmão, “Quão terrível é perceber somente o rude véu sob o qual o Todo desvanece! Pensar que um simples esforço da vontade seria suficiente para demolir aquele véu e tornar-nos unos com a eternidade—saber tudo isso e ainda viver como a última e menor das criaturas...Quão terrível!”
Para demolir o ‘véu’ demanda mais que sentar com dedicação. Requer uma vida de atenção e consciência. Para o homem comum, cuja mente é como um jogo de palavras cruzadas, reflexões, opiniões e preconceitos, atenção pura é virtualmente impossível. Sua vida é centrada não na realidade mas nas Idéias sobre ela. Assim o Buda nos adverte, “O que é visto deve ser apenas o visto; o que é ouvido deve ser apenas o ouvido; o que é sentido (como cheiro, gosto ou tato) deve ser apenas o sentido; o que é pensado deve ser apenas o pensado.” Se algum de vocês acha isso fácil, tente com vocês mesmos. Na próxima vez que forem comer, barbear ou ir ao banheiro, veja se podem realizar estas funções sem a intervenção de pensamentos vãos. Você será excepcional se conseguir.
O objetivo da disciplina Zen, então, é focar completamente em cada objeto e em cada ação, limpando a mente de pensamentos estranhos e a permitir eventualmente ver as coisas como elas verdadeiramente são. A estória seguinte ilustra isso. Um Mestre Zen caminhava nos bosques com um dos seus discípulos. De repente um coelho branco cruzou na frente deles. Tirando vantagem da ocasião, o Mestre perguntou, “O que você diria daquilo?” “Foi como um deus!” exclamou o monge. “Você é um homem crescido mas fala como uma criança,”, replicou o Mestre. “Tudo bem, então,” disse o monge, “o que você diria sobre ele?”
“é um COELHO,”, respondeu o mestre.
Um coelho é um Coelho é um COELHO! Mas quantos sabem o que quer dizer isso? Tal conhecimento não chega através de simples iluminamento mas demanda anos de prática dedicada. Assim mestres Zen dizem, “O treinamento real de um praticante começa apenas após seu iluminamento.”
Quando a Dogen, que mais tarde se tornaria um grande mestre Zen, foi perguntado o que ele aprendera após três anos de treinamento Zen na China, ele respondeu, “Que meu nariz é vertical e meus olhos horizontais.”
Zen Budismo, vocês vêem, é muito simples.

(Philip Kapleau, Mestre Zen nos E.U.A, abril de 1968)

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